domingo, 8 de fevereiro de 2009

Auto retrato

Se de mim falasse não sei bem o que diria... talvez que quando ouço fado me arrepio, ou que quando me abraças adoro, ou que quando leio viajo, ou que quando escrevo sonho... ou até que quando estou com um cansaço pesado me escondo, ou que quando me riu é sincero, e quando choro tambem... acho que falava tambem naquele sentimento estranho que tenho quando vejo um cão vadio e não o posso levar comigo, quando gostava de dar aos pobres e não consigo, quando sinto que podia fazer mais e não faço... falava tambem daqueles dias que sonho escrever uma coisa que me orgulhe, que me imortalize... falava das viagens que quero fazer e ainda não fiz, das pessoas a quem quero abraçar e ainda não abracei, das coisas que quero aprender porque ainda não as sei... dizia que queria plantar milhões de árvores, que queria nadar sobre corais.... dizia tanta coisa... se calhar não vou falar de mim...



Filipa Rebola

Não, não é cansaço...(Fernando Pessoa)

Não, não é cansaço...É uma quantidade de desilusão
Que se me entranha na espécie de pensar.
É um domingo às avessas Do sentimento,
Um feriado passado no abismo...
Não, cansaço não é...
É eu estar existindo E também o mundo,
Com tudo aquilo que contém,
Como tudo aquilo que nele se desdobra
E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais.



Àlvaro de Campos




A Pessoa.... porque é Pessoa

Noites com sol....

Hoje apetece-me escrever sobre coisas felizes, sobre dias felizes, momentos e segundos felizes!Sobre aqueles dias que não queremos que acabem, sobre aqueles sorrisos que não queremos que se esgotem, sobre aquelas noites que não queremos que passem a dia...sobre coisas que nos preenchem, que nos adoçam a boca, que nos despertam sentimentos, emoções, viagem da alma...
Sobre sorrisos imediatamente me ocorre um lindo: a minha doce Mariana, que me enche de orgulho, me desafia para viver, me escolhe como amiga das brincadeiras inocentes de criança...e atrás deste sorriso, vêm mais mil e um maravilhosos que me pintam o dia de cor de rosa: o sorriso velho da minha querida avó, o sorriso distante das minhas amigas do coração ( que de outra cidade consigo ver!), o sorriso matreiro da menina que me serve o café e me conta a vida em segundos.....
Sobre dias felizes lembro-me do dia que descobri terras alentejanas, dos dias que partilhei viagens com amigos, dos dias que as lágrimas eram felizes, dos dias que molho os pés no mar, dos dias que me levanto com as galinhas, dos dias que nunca mais acabam e daqueles que passa num segundo...
Sobre momentos felizes, muitos...eternos, memoráveis, ...tantos, tantos...como aquele momento em que ouvi aquele fado de despedida, como aquele em que revi amigos, como aquele que comi aquele doce maravilhoso.... sobre momentos, tanta coisa a dizer...
Sobre as noites que nos deixam lembranças que não passam, recordo aquela em que me rasgaram impiedosamente o meu traje, aquela em que vi o sol nascer numa esplanada qualquer, aquelas que partilhei com amigos do coração, aquelas que percorria milhares de locais diferentes e aquelas em que não saía da minha varanda, ou ainda aquelas noites de verão que são tão quentes que nunca se tem pressa de ir dormir, aquelas em que vou a um sitio que nunca fui e odeio, aquelas que vou ao sitio do costume e adoro...
Sobre coisas felizes, sobre momentos e segundos felizes, sobre tudo o que amo, não chegam palavras, a ás vezes acho que não chega uma vida....



Estas palavras são para quem, consegue ser feliz pelo menos só nalgum momento ou segundo...só em alguma noite, só com algum sorriso...

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Mil dias de espera....

A porta bateu com força ao fechar...da janela ainda te vi virar a esquina! Não podia esperar mais que voltasses, mas ao mesmo tempo, era duro demais pensar que nunca mais te via...
Foi o inicio de uns longos dias de introspecção passados na cabana que construiu o meu pai, quando comprámos um terreno á beira mar. Anos antes, tinha olhado para aquele bocado de terra plantado á beira de um imenso areal e pensado que era impensável alguem ali viver, mas sobre uma construção divina tinha nascido uma coisa completamente entendida hoje para mim como um lar. Apesar de afastado da minha casa habitual, era ali que passava muito tempo da minha vida. Foi ali que nasceu inspiração para os livros, ali nasceu algumas das amizades que guardo para a vida, ali nasceu uma parte de mim que não conhecia e que explorei, e incrivelmente, gostei... mas naquele dia preferia que todo aquele cenário nao existisse, ou pelo menos não assim, daquela maneira.
E assim, como tinha de acabar um livro, dar-lhe os retoques finais, resolvi ir apontando os dias de espera por coisa nenhuma...ás vezes é bom saber que o tempo se conta, razão pela qual sempre amei relógios, se calhar, acho eu....porque nem sempre a noção de tempo é aceitável!
Esse mágico objecto de ponteiros por vezes tambem nos trama...quando de repente me olho ao espelho e percebo que os anos estão comodamente arquivados na minha aparência, e no meu cerebro... o tempo cansa....e cansou-me assim de repente quando viraste as costas, quando nunca mais te vi, quando só de pensar em ti perdia dez anos de existência....




A esse maravilhoso objecto de ponteiros que me conta os segundos e os minutos da minha existência neste mundo de ninguem....aos dias que passam rápido e aos que passam devagar, aos que já nem me lembro e aos que tenho gravados na memória...