terça-feira, 27 de outubro de 2009

Caim

" A historia dos Homens é a historia dos seus desentendimentos com Deus,
nem Ele nos entende a nós, nem nós o entendemos a Ele...."

E com silêncio falo...

Quem pode salvar-me do que está dentro de mim?
Escrever ás vezes não é um previlegio, é sim um sufoco...todo o escritor é, de certa forma, solitario, sozinho, envelhecido...mesmo se ninguem ler o que escrevo, o sentimento de partilha das palavras é igual.....mesmo se ninguem sentir as "minhas" saudades, é igual...eu sinto por muita gente, olho e ouço por uma multidão, por isso "cada um de nós é muita gente" (F.P)...
Quem pode entender o que penso?
Escrever ás vezes é duro, ás vezes é inocente, ás vezes é sentido, ás vezes é ridiculo...ás vezes nao faz sentido, ás vezes é lindo... " é meu e vosso este fado" (Mariza)
Quem pode chorar as minhas lagrimas?
Escrever a ouvir o gemido de uma guitarra obriga a "escrever bem"...para mim o fado dá-me sede de palavras, dá-me uma augustia boa, uma solidão que aguento tão bem como um abraço...
Quem pode ouvir a musica que ouço, e cantar o refrão comigo?
Escrever ás vezes, faz-me chorar...chorar porque tenho lagrima fácil, chorar porque queria fazer das palavras a minha vida, chorar porque me lembro de alguem...
Quem pode conhecer-me?
Escrever para alguem ler...ler para me conhecer...



"Tasco da Mouraria"
"Medo"
"Loucura"

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Sophia...

Sinto que hoje novamente embarco Para as grandes aventuras,
Passam no ar palavras obscuras E o meu desejo canta
por isso marco nos meus sentidos a imagem desta hora.
Sonoro e profundo aquele mundo que eu sonhara e perdera espera peso dos meus gestos.
E dormem mil gestos nos meus dedos.
Desligadas dos círculos funestos
Das mentiras alheias,
Finalmente solitárias,
As minhas mãos estão cheias
De expectativa e de segredos
Como os negros arvoredos que baloiçam na noite murmurando.
Ao longe por mim oiço chamando
A voz das coisas que eu sei amar.
E de novo caminho para o mar...

As Tormentas...

Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo
Mal de te amar neste lugar de imperfeição onde tudo nos quebra e emudece,
Onde tudo nos mente e nos separa
Que nenhuma estrela queime o teu perfil
Que nenhum deus se lembre do teu nome
Que nem o vento passe onde tu passas.
Para ti criarei um dia puro
livre como o vento e repetido como o florir das ondas ordenadas.

Outra vez Sophia...

Porque os outros se mascaram mas tu não,
Porque os outros usam a virtude para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.




quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Uns tempos depois...

Uns meses depois apercebo-me que ja nao escrevo á seculos...quando nao se tem nada para dizer ou mostrar, não vale a pena forçar....mas sinto falta da caneta e do papel, do cerebro a mil, das ideias a cair na folha...por isso, uns meses depois peguei novamente em palavras e escrevi...


A areia era mesmo da cor que eu imginava, aquele branco imaculado, aquele branco de paz... e tu ali comigo de mão dada, apertada de saudade, salpicada de água salgada.....que bom ter-te ali comigo, que bom puder olhar para ti assim... as saudades ás vezes fazem-nos ver tudo com mais amor, mais sentido, e tanto tempo depois, olho-te com a mesma vontade como te olhei no primeiro dia, com amor...
Quem me dera ficar lá para sempre, quem me dera tomar banho naquele mar todos os dias, quem me dera que o tempo parasse, quem me dera voltar lá contigo.....




Para ti, com amor...


quarta-feira, 18 de março de 2009

Um lugar chamado aqui...

Por vezes, as pessoas desaparecem mesmo á frente dos nossos olhos... Por vezes, os outros encontram-nos mesmo que tenham estado a olhar para nós durante todo o tempo. Por vezes perdemos o contacto connosco próprios, porque não estavamos suficientemente atentos...
De vez em quando, todos nós nos perdemos, às vezes devido a forças que estão fora do nosso controlo. Quando descobrimos aquilo de que a nossa alma precisa, o caminho apresenta-se sem esforço à nossa frente... Por vezes, vemos uma saída, mas mesmo assim desviamo-nos para mais longe e mais fundo apesar de sabermos; o medo, a raiva ou a tristeza são o que nos impede de regressar...por vezes, preferimos andar perdidos e vaguear, porque por vezes é mais facil...Outras vezes acabamos por encontrar o nosso caminho. Mas seja qual for o caso, somos sempre encontrados por alguém....


Cecelia Ahern
Capitulo 55

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Auto retrato

Se de mim falasse não sei bem o que diria... talvez que quando ouço fado me arrepio, ou que quando me abraças adoro, ou que quando leio viajo, ou que quando escrevo sonho... ou até que quando estou com um cansaço pesado me escondo, ou que quando me riu é sincero, e quando choro tambem... acho que falava tambem naquele sentimento estranho que tenho quando vejo um cão vadio e não o posso levar comigo, quando gostava de dar aos pobres e não consigo, quando sinto que podia fazer mais e não faço... falava tambem daqueles dias que sonho escrever uma coisa que me orgulhe, que me imortalize... falava das viagens que quero fazer e ainda não fiz, das pessoas a quem quero abraçar e ainda não abracei, das coisas que quero aprender porque ainda não as sei... dizia que queria plantar milhões de árvores, que queria nadar sobre corais.... dizia tanta coisa... se calhar não vou falar de mim...



Filipa Rebola

Não, não é cansaço...(Fernando Pessoa)

Não, não é cansaço...É uma quantidade de desilusão
Que se me entranha na espécie de pensar.
É um domingo às avessas Do sentimento,
Um feriado passado no abismo...
Não, cansaço não é...
É eu estar existindo E também o mundo,
Com tudo aquilo que contém,
Como tudo aquilo que nele se desdobra
E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais.



Àlvaro de Campos




A Pessoa.... porque é Pessoa

Noites com sol....

Hoje apetece-me escrever sobre coisas felizes, sobre dias felizes, momentos e segundos felizes!Sobre aqueles dias que não queremos que acabem, sobre aqueles sorrisos que não queremos que se esgotem, sobre aquelas noites que não queremos que passem a dia...sobre coisas que nos preenchem, que nos adoçam a boca, que nos despertam sentimentos, emoções, viagem da alma...
Sobre sorrisos imediatamente me ocorre um lindo: a minha doce Mariana, que me enche de orgulho, me desafia para viver, me escolhe como amiga das brincadeiras inocentes de criança...e atrás deste sorriso, vêm mais mil e um maravilhosos que me pintam o dia de cor de rosa: o sorriso velho da minha querida avó, o sorriso distante das minhas amigas do coração ( que de outra cidade consigo ver!), o sorriso matreiro da menina que me serve o café e me conta a vida em segundos.....
Sobre dias felizes lembro-me do dia que descobri terras alentejanas, dos dias que partilhei viagens com amigos, dos dias que as lágrimas eram felizes, dos dias que molho os pés no mar, dos dias que me levanto com as galinhas, dos dias que nunca mais acabam e daqueles que passa num segundo...
Sobre momentos felizes, muitos...eternos, memoráveis, ...tantos, tantos...como aquele momento em que ouvi aquele fado de despedida, como aquele em que revi amigos, como aquele que comi aquele doce maravilhoso.... sobre momentos, tanta coisa a dizer...
Sobre as noites que nos deixam lembranças que não passam, recordo aquela em que me rasgaram impiedosamente o meu traje, aquela em que vi o sol nascer numa esplanada qualquer, aquelas que partilhei com amigos do coração, aquelas que percorria milhares de locais diferentes e aquelas em que não saía da minha varanda, ou ainda aquelas noites de verão que são tão quentes que nunca se tem pressa de ir dormir, aquelas em que vou a um sitio que nunca fui e odeio, aquelas que vou ao sitio do costume e adoro...
Sobre coisas felizes, sobre momentos e segundos felizes, sobre tudo o que amo, não chegam palavras, a ás vezes acho que não chega uma vida....



Estas palavras são para quem, consegue ser feliz pelo menos só nalgum momento ou segundo...só em alguma noite, só com algum sorriso...

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Mil dias de espera....

A porta bateu com força ao fechar...da janela ainda te vi virar a esquina! Não podia esperar mais que voltasses, mas ao mesmo tempo, era duro demais pensar que nunca mais te via...
Foi o inicio de uns longos dias de introspecção passados na cabana que construiu o meu pai, quando comprámos um terreno á beira mar. Anos antes, tinha olhado para aquele bocado de terra plantado á beira de um imenso areal e pensado que era impensável alguem ali viver, mas sobre uma construção divina tinha nascido uma coisa completamente entendida hoje para mim como um lar. Apesar de afastado da minha casa habitual, era ali que passava muito tempo da minha vida. Foi ali que nasceu inspiração para os livros, ali nasceu algumas das amizades que guardo para a vida, ali nasceu uma parte de mim que não conhecia e que explorei, e incrivelmente, gostei... mas naquele dia preferia que todo aquele cenário nao existisse, ou pelo menos não assim, daquela maneira.
E assim, como tinha de acabar um livro, dar-lhe os retoques finais, resolvi ir apontando os dias de espera por coisa nenhuma...ás vezes é bom saber que o tempo se conta, razão pela qual sempre amei relógios, se calhar, acho eu....porque nem sempre a noção de tempo é aceitável!
Esse mágico objecto de ponteiros por vezes tambem nos trama...quando de repente me olho ao espelho e percebo que os anos estão comodamente arquivados na minha aparência, e no meu cerebro... o tempo cansa....e cansou-me assim de repente quando viraste as costas, quando nunca mais te vi, quando só de pensar em ti perdia dez anos de existência....




A esse maravilhoso objecto de ponteiros que me conta os segundos e os minutos da minha existência neste mundo de ninguem....aos dias que passam rápido e aos que passam devagar, aos que já nem me lembro e aos que tenho gravados na memória...