segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Um pouco sozinha...

“Quando as coisas são verdadeiramente importantes, quando se chega ao limite de cada coisa, estamos sós. Sempre e irremediavelmente sós...” MST

Um pouco só...ás vezes até quando sou inundada por uma multidao, na rua movimentada, no metro, no transito, um pouco só sempre que me deixo arrastar para o cúmulo inocente deste vazio que é a eternidade da alma. De repente, agora, hoje aqui, eu sou aquele que passa, aquele que fica, o que vai, o que vira as costas...sou eu, sou tu, vou-me camuflando entre os arbustos humanos da cidade, respirando o seu ar, apanhando o toque das suas cores, vestindo os seus modelos, vivendo a sua vida, transpirando as suas emoções....mas só, só quando tem de se estar só, quando o pensamente é demasiado valioso para se partilhar com alguem, quando o que nos vai na alma ninguem entenderia, quando se grita por dentro, quando se explode de ideias, quando se quer saltar para o mar, quando se quer mergulhar na escuridão, quando ninguem nos dá a mão....




Aos dias vazios, á Joana que me fez apreciar a solidão

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Ao tempo, que tudo leva...

Queria que o tempo parasse agora…imortaliza-se este momento, para sempre…deixa-se assim esta imagem…tu, aqui comigo, deitado ao meu lado, a afagares-me ao de leve o cabelo, sem pressa, a luz a entrar pela janela devagar, eu a olhar-te e a imaginar o que pensas….esta fotografia que tiro agora, vai ser diferente daqui a 1 segundo, daqui a 2 minutos, ou daqui a anos…por isso, conta o agora, o já, o vivido neste momento…precisamente este toque, este olhar, esta luz, esta janela… porque a seguir, o tempo vai levar tudo isto, vai vir outras luzes, outros toques outras janelas…eu vou ser diferente, tu vais ser diferente…eu vou estar noutro sitio, tu vais estar longe, e depois? Nunca mais vamos ser os mesmos, nunca mais vamos dividir o mesmo olhar….por isso, agarra isto tudo agora, sente muito, leva-me na mente, no corpo, na cabeça, no coração…fotografa esta imagem, e coloca no filme da tua vida, para sempre…


À Andreia...para que nunca se esqueça de viver....


À Morte...

Palavras soltas no vão da escada… recordaste-me a insanidade da vida….
O momento da partida é sempre o mais duro.
Caminhas de costas para mim, a andar, direito, hirto, em direcção ao sol no horizonte, simplesmente não olhas para trás…
Dói-me tanto, não imaginas… na minha mente só paira a incerteza da tua ida, o imensurável vazio da tua ausência, imagino o teu rosto moreno, o teu olhar de prata, as mãos suadas, o toque, o momento….
Choro agora sentada no alpendre, a imagem da perda está por todo o lado. Hesito. Penso que podias ter mudado o fado das nossas vidas, estava na tua mão…porque te entregaste assim? Seria o meu amor pouco para ti? Que vazio, que dor tão forte, que solidão se abeira aos poucos.
Ao mesmo tempo que vaguei entre pensamentos soltos, lembro-me de um momento… “gosto tanto de ti”, disseste uma vez, agora dirias o mesmo? Amas-me ainda á tua maneira? Onde estiveres agora? Quero tanto pensar que sim… esperas por mim?
É tão forte esta saudade….
Saudade… Senti tantas vezes, por tanta coisa, os pensamentos que arquivamos enquanto seres viventes: momentos, horas, imagens, pessoas… isto é saudade. Lembro-me de um momento em particular.
Era um final de tarde de Setembro, a praia estava praticamente vazia, ao longe havia 2 velhos pescadores, caídos, apodrecidos no tempo.
Soprava uma brisa leve, sabia bem. Descemos juntos até á beira-mar, descalços, de mãos dadas. Aquele momento foi só nosso, tão nosso que dói recorda-lo agora.
Não dissemos nada durante muito tempo, até que tu pegaste na minha face e carinhosamente disseste que se algum dia partisses, do que irias sentir mais falta era do calor da minha mão.
Recordo essas palavras até hoje… penso nelas como se não existisse amanha! Algumas semanas depois, acordo com a terrível noticia da tua perda…não consigo quantificar por palavras todo aquele momento, durou tanto, ate agora, talvez….
A partir daí foi um emaranhado de acontecimentos sem retorno, não consigo lembrar-me do velório, do funeral, das pessoas… foi um transe que não consigo ter recordação…
Passou, só sei isso…custou…amei-te….
E agora, sozinha recordo…só isso me resta, só isso me traz de volta a tua imagem, o teu olhar…
A vida foi ingrata, madrasta, leviana…no rádio toca a tua musica, o soar da guitarra repete sem parar um refrão que já não existe, mas eu ouço, e tu também ouves, e de certo te lembras do que pensávamos quando a ouvíamos juntos…assim só a ouvir, deitados de cabeça ao ar, a saborear o toque melancólico da batida, pensávamos em correr dali para fora, e sem falar o nosso olhar cúmplice denunciava-nos…
Já pensei tantas coisas nestes últimos minutos que estou cansada, saturada, de ti, de pensar, de chorar, de me lamentar… os factos são estes…Deus jogou connosco….e ganhou…Levou-te para ele como troféu…
Eu perdi… e vou viver com isso até ao ultimo dia na terra.
Sinto-me irremediavelmente só… não és só tu que me fazes falta, é também o sorriso que me colocavas na cara, o amor que me davas, as tardes de cumplicidade, as noites de paixão, a loucura de correr sem parar sobre os campos verdes, os banhos de mar, o por do sol….esse por do sol que nunca mais é igual, em nenhuma parte do mundo, em nenhuma praia, em nenhum canto…
Gosto de ti, já te disse? Vou repetir sem parar, gritar a olhar para o céu, vou gritar á chuva, chamar o teu nome, pedir que venhas só mais uma vez, só uma noite…só por um instante…só para olhar para ti, para te passar a mão na cara, sentir a tua pele, e tu sentires a minha…ver-te outra vez, deixar que me vejas a mim….e abraçar-te, abraçar-te tanto, tanto, com tanta força, com tanto amor…
Um abraço é algo tão forte, tão nosso… e há abraços que doem…como o ultimo que te dei…doeu tanto, tanto que o sinto até hoje…. E vai ficar para sempre aqui, até á morte…


Excerto de um livro em construção...
A todos aqueles que me "deixaram"
Ao Luis e ao Nelo que já partiram...

Á noite...

Minha companheira, conselheira, amante, amiga…tantas vezes anseio pela tua chegada, e mais vezes ainda anseio pela tua partida…és tu que me inspiras para tudo, quando abro a janela e te vejo…ao longe mais clara onde o sol já nasce, e de perto abraças-me escura, sombria, distante…só tu sabes quem sou, só tu me conheces como ninguém… a ti não te minto, não te engano…sabes quando choro, quando riu, quando não durmo, quando desmaio de cansaço, quando estou sozinha, quando estou acompanhada...e vejo-te sempre de maneiras diferentes: umas vezes pareces-me envolvente, linda, outras, interminável, sofucante…
Um dia na Sé Velha, vi-te como nunca te tinha visto antes, nem nunca vou voltar a ver…a lua ao fundo, acompanhava o cenário… fiquei longos minutos a olhar-te de uma janela pequena, e imaginava tanta coisa…como imagino agora, que escrevo na varanda, a olhar-te…vou imaginar sempre muita coisa, porque tu és sonho, és ilusão, és paixão, és saudade….



Ao meu pai, que me "obrigou" a ler "Boémia Coimbrã"

Aos amigos, e aos rostos sem nome que me seguem

A todos estes tenho de agradecer profundamente, como se agradece a um pai ou uma mãe… todos eles, os amigos, são uma panóplia de memórias, de gestos, de horas que trago comigo todos os dias e todas as noites. Sem eles, muita da minha vida não teria feito sentido, não teria conseguido suportar muitos momentos, não conseguiria controlar alegrias, não conseguia rir sem parar, não conseguia sair pelo mundo e vaguear, se eles não me tivessem ensinado a absorver tudo por onde passava, de cheirar, de ouvir, de olhar…. E levar tudo isso comigo para o resto da vida… assim, como eles. Levo-os para onde quer que vá, levo-os quando fujo, quando me escondo do mundo, levo-os quando saio para me divertir, quando riu a noite toda, levo-os comigo quando as noites parecem não ter fim, levo-os sempre, sempre. Cá dentro, bem no fundo visceral do coração, cá dentro onde ninguém vê, mas onde eu os sinto, sempre, sempre…


À Ana e á Andreia que choram as minhas lagrimas
À Guida que me as seca....

Aos amores da minha vida

O amor é uma ironia tão grande, que chega a sofucar quem a vive…desse sufoco vai-se tirando pedaços de momentos que mais tarde se transformam em saudades…os meus amores têm muitas faces, formas e rostos. Ao longo da vida, amei intensamente tantas pessoas e tantas coisas, e tantos animais…. Na minha memória vão pairar sempre minutos passados com eles, palavras que foram ditas, momentos de silencio que tanto queriam dizer, dias de chuva, dias de sol, noites de loucura, noites de solidão….com eles partilhei tanto de mim, mostrei a alguns, um lado tão intimo e fantástico que me dói agora pensar que foi partilhado. E essas coisas, pessoas, rostos, deixaram em mim marcas tão fortes de saudade, de amor, de admiração, que não posso deixar nenhum deles pelos caminhos amargos da vida… levo-os todos comigo, para sempre, na alma, no coração, no corpo, na mente, nos gestos, nos pensamentos…. Foram eles que me construíram enquanto mulher, enquanto ser, enquanto amante…. São eles que todos os dias, em jeito de saudade, me fazem andar mais para a frente, de encarar o sol matinal, de caminhar, de escrever, de pensar…. A todos, dedico estas palavras, onde o que vou deixar aqui por dizer, tenho a certeza que lhos disse pessoalmente em algum momento de partilha…




São para voces, cães, gatos, amigos, amigos do coração, amigos de ocasião, companheiros,são para voces estas linhas que hoje escrevo...

A Coimbra ( a cidade do sol)...

As vezes penso que sou diferente de toda a gente que se cruza comigo, que ja passou pela minha vida, que vai entrando e saindo.... Sinto-me estranha muitas vezes.... O meu porto de abrigo, a lua, o céu.... A escrita... um refúgio, uma paisagem, um local especial, uma pessoa, traz-me uma lufada de ar fresco...um fôlego para continuar a minha caminhada.... A ti, cidade da minha alma, do meu coração, dos meus amores, dedico estas linhas... a ti que acolhes todos os dias o meu estado de espírito, a ti que me vês alegre, ou triste, que ris comigo nos momentos de felicidade, ou que choras quando eu choro…. A ti devo a minha vida, os meus amores, a minha capa rasgada, o meu traje escuro em noites de serenata, devo-te os olhares de esperança sobre o Mondego, que corre indiferente aos dilemas mentais de quem o olha, devo-te o amor que brota em cada canto da Alta, em cada olhar de estudante, na despedida….devo-te tudo isto e muito mais…. Devo-te a minha alma… quando um dia morrer, levo a minha velha capa comigo, levo-te a ti, minha cidade, para me iluminares na hora da despedida…



Depois de ler "Cartas a Sandra", achei que escrever isto fazia todo o sentido...
Este texto é para, e sempre de Coimbra e de todas as pessoas que me ajudaram a conhecer a tradição...
Para a Ana, que me traçou pela primeira vez a capa e me fez amar o traje

Ao Mar...

Naquele dia o mar estava calmo... as marés são um fenómeno interessante: vão e vêem... como tudo no percurso dos meus dias... vão coisas, pessoas, momentos, vêem mais coisas, mais pessoas, mais momentos...e eu continuo aqui sentada na areia pensando, repensando, mais um cigarro, um minuto...á espera que venha a próxima maré... e que chegue rápido... que me traga, paz, amor, sossego… gosto do mar assim, calma entre a brisa matinal! Dá-me alento, coragem, felicidade… corro para cá cada vez que algo corre mal, que fico triste com a vida, que me sinto perdida. Aqui é o começo de tudo, tudo começou da água, e pelas leis da natureza, foi evoluindo sempre para algo mais complexo… vivo na ânsia de, ao vir aqui, tudo comece de novo, nasça novamente, e eu possa ter o dom de modificar as coisas, de viver mais cada dia, de ser mais feliz, de me amar mais… não acontece. Quando viro as costas a esta imensidão de águas, volta tudo… de novo transito, pessoas, problemas, azafama, vidas que não se vivem, passa-se ao lado delas…
Quem me dera que a vida fosse como o mar, me trouxesse em cada maré coisas novas, agua pura, esperança, novos horizontes, novas gotas de amor, nova espuma de saudade….




Excerto de um "livro" em construção...

Pensando em ti…

...Começo então a caminhar nesta areia molhada, descalça, cabeça vazia, sozinha na imensidão do areal, pensando em ti.... tanta vontade de te ver, de te tocar, de te levar comigo para sempre no coração.... porque és diferente, porque vives como eu, sobre os desejos e sobre as fantasias.... tu és eu... estranho, não?? Que medo que tenho ao pensar que ainda não te encontrei...mas vou encontrar-te, porque tu és igual a mim... porque sentes o que eu sinto, porque me amas como te amo a ti, porque necessitas de fugir, assim como eu, deste mundo de loucos, deste emaranhado de gente que corre para lugar nenhum…
Olho o mar e penso que talvez tudo pudesse ter sido diferente, se já te tivesse comigo, se já estivesses em mim, como eu estou em ti, desde sempre. Mas não o é, não estás, não caminhas ao meu lado, agora nesta areia molhada, descalço, como eu….onde estás agora, meu eterno amor?? Perdido por aí, misturado nesse tal emaranhado de gente que se arrasta? Levam-te com eles, sem explicação, sem perguntas, e eu, no sossego desta praia, espero-te, como espera uma mãe desejosa de ver um filho…