Palavras soltas no vão da escada… recordaste-me a insanidade da vida….
O momento da partida é sempre o mais duro.
Caminhas de costas para mim, a andar, direito, hirto, em direcção ao sol no horizonte, simplesmente não olhas para trás…
Dói-me tanto, não imaginas… na minha mente só paira a incerteza da tua ida, o imensurável vazio da tua ausência, imagino o teu rosto moreno, o teu olhar de prata, as mãos suadas, o toque, o momento….
Choro agora sentada no alpendre, a imagem da perda está por todo o lado. Hesito. Penso que podias ter mudado o fado das nossas vidas, estava na tua mão…porque te entregaste assim? Seria o meu amor pouco para ti? Que vazio, que dor tão forte, que solidão se abeira aos poucos.
Ao mesmo tempo que vaguei entre pensamentos soltos, lembro-me de um momento… “gosto tanto de ti”, disseste uma vez, agora dirias o mesmo? Amas-me ainda á tua maneira? Onde estiveres agora? Quero tanto pensar que sim… esperas por mim?
É tão forte esta saudade….
Saudade… Senti tantas vezes, por tanta coisa, os pensamentos que arquivamos enquanto seres viventes: momentos, horas, imagens, pessoas… isto é saudade. Lembro-me de um momento em particular.
Era um final de tarde de Setembro, a praia estava praticamente vazia, ao longe havia 2 velhos pescadores, caídos, apodrecidos no tempo.
Soprava uma brisa leve, sabia bem. Descemos juntos até á beira-mar, descalços, de mãos dadas. Aquele momento foi só nosso, tão nosso que dói recorda-lo agora.
Não dissemos nada durante muito tempo, até que tu pegaste na minha face e carinhosamente disseste que se algum dia partisses, do que irias sentir mais falta era do calor da minha mão.
Recordo essas palavras até hoje… penso nelas como se não existisse amanha! Algumas semanas depois, acordo com a terrível noticia da tua perda…não consigo quantificar por palavras todo aquele momento, durou tanto, ate agora, talvez….
A partir daí foi um emaranhado de acontecimentos sem retorno, não consigo lembrar-me do velório, do funeral, das pessoas… foi um transe que não consigo ter recordação…
Passou, só sei isso…custou…amei-te….
E agora, sozinha recordo…só isso me resta, só isso me traz de volta a tua imagem, o teu olhar…
A vida foi ingrata, madrasta, leviana…no rádio toca a tua musica, o soar da guitarra repete sem parar um refrão que já não existe, mas eu ouço, e tu também ouves, e de certo te lembras do que pensávamos quando a ouvíamos juntos…assim só a ouvir, deitados de cabeça ao ar, a saborear o toque melancólico da batida, pensávamos em correr dali para fora, e sem falar o nosso olhar cúmplice denunciava-nos…
Já pensei tantas coisas nestes últimos minutos que estou cansada, saturada, de ti, de pensar, de chorar, de me lamentar… os factos são estes…Deus jogou connosco….e ganhou…Levou-te para ele como troféu…
Eu perdi… e vou viver com isso até ao ultimo dia na terra.
Sinto-me irremediavelmente só… não és só tu que me fazes falta, é também o sorriso que me colocavas na cara, o amor que me davas, as tardes de cumplicidade, as noites de paixão, a loucura de correr sem parar sobre os campos verdes, os banhos de mar, o por do sol….esse por do sol que nunca mais é igual, em nenhuma parte do mundo, em nenhuma praia, em nenhum canto…
Gosto de ti, já te disse? Vou repetir sem parar, gritar a olhar para o céu, vou gritar á chuva, chamar o teu nome, pedir que venhas só mais uma vez, só uma noite…só por um instante…só para olhar para ti, para te passar a mão na cara, sentir a tua pele, e tu sentires a minha…ver-te outra vez, deixar que me vejas a mim….e abraçar-te, abraçar-te tanto, tanto, com tanta força, com tanto amor…
Um abraço é algo tão forte, tão nosso… e há abraços que doem…como o ultimo que te dei…doeu tanto, tanto que o sinto até hoje…. E vai ficar para sempre aqui, até á morte…
Excerto de um livro em construção...
A todos aqueles que me "deixaram"
Ao Luis e ao Nelo que já partiram...
1 comentário:
Não perdeste o jeito...
Espero que um dia acabes o livro que um dia começaste!:)
Lavim...
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